Ações da Natureza e do Pensamento
Ações da Natureza e do Pensamento
Dentre
todas as belas análises dentro do Bhagavad Gita, aquela que mais nos
chama a atenção é, na realidade, o tema básico de toda a
filosofia cósmica da Índia: o reto-agir (naiskarman) substituindo o
falso-agir (vikarman) e o não-agir (akarman).
Existe
no Oriente uma tendência de passividade, nascida da convicção de
que todo o agir do homem profano é negativo, mau, pecaminoso, porque
o homem profano age em nome de seu ego e por amor a ele, que é uma
ilusão.
Krishna,
porém, e outros mestres iluminados não advogam essa passividade do
não-agir, mas recomendam uma terceira atitude, equidistante do
falso-agir do profano e do não-agir do místico; insistem no
reto-agir do homem cósmico. O reto-agir consiste em agir em nome e
por amor do Eu central (Atman) do homem, embora o ego periférico
(Aham) possa servir como canal e veiculo dessas águas vivas que
emanam da fonte divina do homem.
Para
que seja possível essa terceira atitude do homem, é indispensável
que ele conheça intuitivamente o seu Eu central, que em sânscrito
se chama Atman, nos livros sacros do cristianismo aparece como a alma
ou espírito, e na filosofia e psicologia ocidental é denominado Eu
(Self, Selbst). No evangelho do Cristo, esse Eu central do homem
aparece muitas vezes como Pai, Luz, Reino de Deus, Tesouro Oculto,
Pérola Preciosa, etc.
Quando
o homem age em nome desse seu Eu divino e por amor a ele, embora pelo
ego humano, não somente não acumula debito ou karma, mas também se
liberta dos débitos do passado.
De
maneira que, no Bhagavad Gita, Krishna atinge o zênite da
auto-realização do homem baseado no mais alto conhecimento do seu
ser divino formando perfeito paralelo às palavras do Cristo: “
Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
O
impulso humano para a ação é composto de pelo menos duas
polaridades: a interna, que reflete os desejos e a Inspiração; e a
externa, que reflete a influência das múltiplas vibrações
exteriores ao homem que influem sobre a sua mente.
Nenhuma
ação é puramente exterior, por influência alheia, pois tudo que é
Karma (ação), incluindo aí o akarman, é derivado do Pratyaya
(temperamento) e do Vritti (reação). O que se diz então é que o
homem possui “duas mentes”, partes integrantes da manifestação
do Manas (pensador).
Estes
conceitos equacionam-se com a natureza do corpo psíquico do ser
humano. Sua função é conectar a natureza inferior do homem e o
mundo exterior à sua natureza superior e única. No entanto, a forma
como se constitui o impede, em primeira mão, de permitir uma visão
real do mundo.
Se
imaginarmos a mente humana, analogamente, como uma cebola ou um alvo,
onde suas “partes” se unem formando um todo bem definível em si,
veremos, no centro de todas as partes o Manas. Manas é o que grande
parte das escolas ocultistas do ocidente costuma nomear “corpo
astral”. Este corpo é nossa parte ultrapessoal e ultraindividual,
cuja natureza é única em toda a Criação. É a “alma” que
“desperta” o corpo físico. Em termos mais simples: Consciência.
Por
ser único e de natureza sutil, Manas precisa de formas
intermediárias de manifestação. Ao contrário das duas outras
partes da Individualidade, manas não é impessoal. Ele não
representa a essência em si, mas a forma pela qual a essência se
manifesta. Isto significa que Manas não é um corpo divino, mas a
manifestação da natureza divina. É intermediário entre os dois
mundos.
Para
manifestar-se no corpo físico, a mente que surge ao redor de Manas
necessita de dois princípios: um mais próximo do mundo exterior e
outro mais próximo do mundo divino. Estes dois princípios formam o
que costumamos nomear Pensamento.
A
natureza mais próxima de Manas é Pratyaya. Pratyaya é o que
chamamos no ocultismo ocidental de Temperamento. É a parte de nosso
pensamento/comportamento que nasce conosco. É manifestado através
de quatro princípios básicos, análogos aos elementos da Tradição
do ocidente.
Esta
parte/natureza de nosso pensamento é imutável. Nasce conosco, e
morre conosco. Suas nuances são expostas nos aspectos de nosso Tema
Natal e demonstram a forma básica de nossa mente. Prityaya pode ser
vista como a semente do homem que virá a ser, pois manifesta-se já
na menor infância.
Além
de Prityaya está Vritti. Vritti é o pensamento/natureza moldável,
que se associa ao temperamento e está mais próximo do mundo
material. Representa a ligação entre o mundo exterior e a nossa
natureza interior. Nossa educação, nossas relações, e tudo que
vem do mundo inferior causa impressões em Vritti. Estas impressões,
sempre de natureza única, permanecem armazenadas em nossa memória e
vão, de acordo com o temperamento manifestado por Prityaya, definir
a ação que tomaremos com base em nosso pensamento.
É
impossível alterar Pirtyaya. Nosso temperamento é único e
definido. No entanto, conhecê-lo é um passo importante para
permitirmos que nossa consciência efetivamente atue seletivamente
sobre aquilo que recebemos do mundo e que impressiona Vritti. Não
somos receptores perfeitos nem emissores perfeitos. Aquilo que
impressiona o nosso corpo astral e perpetua-se em nossa roda de
encarnações é uma mistura daquilo que somos ao nascer e daquilo
que nos tornamos com o tempo.
Por
isso é tão importante aprender a dominar as nossas duas mentes.
Entender como estas duas partes de nosso pensamento se unem em um
padrão de comportamento define como nós encaramos o mundo e como
somos capazes de fazer com que o mundo nos sinta, encare e reaja à
nós. Apesar de não ser possível fazer com que as duas naturezas
sigam o mesmo caminho, conhecendo a forma como as duas se manifestam
na forma de Movimento (ação) é possível fazer com ambas sirvam ao
mesmo propósito e que o Carro (mente) se encaminhe na direção
correta.