O que a Biblia diz sobre os Anjos
O que a Biblia diz sobre os Anjos
Os
anjos estão sujeitos ao governo divino, e o importante papel que
têm desempenhado na história do homem, torna-os merecedores de
referência especial e de um estudo especial, pois, nas Escrituras,
sua existência é sempre considerada matéria pacífica. Desta
forma, estaremos nos ocupando em estudar a partir do presente estudo
sobre os anjos, ministros de Deus (Hb 1:14).
DEFINIÇÃO
DO TERMO "ANJO"
A
palavra portuguesa anjo possui origem no latim angelus , que por
sua vez deriva-se do grego angelos . No idioma hebraico, temos
malak . Seu significado básico é "mensageiro" (para
designar a ideia de ofício de mensageiro). O grego clássico
emprega o termo angelos para o mensageiro, o embaixador em assuntos
humanos, que fala e age no lugar daquele que o enviou.
No
Antigo testamento (AT), onde o termo malak ocorre 108 vezes, os
anjos aparecem como seres celestiais, membros da corte de Yahweh,
que servem e louvam a Ele (Ne 9:6; Jó 1:6), são espíritos
ministradores (1Rs 19:5), transmitem a vontade de Deus (Dn
8:16,17)), obedecem a vontade de Deus (Sl 103:20), executam os
propósitos de Deus (Nm 22:22), e celebram os louvores de Deus (Jó
38:7; Sl 148:2).
No
Novo Testamento (NT), onde a palavra angelos aparece por 175 vezes,
os anjos aparecem como representativos do mundo celestial e
mensageiros de Deus. Funções semelhantes às do AT são
atribuídas a eles, tais como: servem e louvam a Cristo (Fp 2:9-11;
Hb 1:6), são espíritos ministradores (Lc 16:22; At 12:7-11; Hb
1:7,14), transmitem a vontade de Cristo (Mt 2:13,20; At 8:26),
obedecem a vontade dEle (Mt 6:10), executam os Seus propósitos
(Mt 13:39-42), e celebram os louvores de Cristo (Lc 2:13,14). Ali,
os anjos estão vinculados a eventos especiais, tais como: a
concepção de Cristo (Mt 1:20,21), Seu nascimento (Lc 2:10-12), Sua
ressurreição (Mt 28:5,7) e Sua ascensão e Segunda Vinda (At
1:11).
O
termo teológico apropriado para esse estudo que ora iniciamos é
Angelologia (do grego angelos , "anjo" e logia , "estudo",
"dissertação"). Angelologia, se constitui, portanto, de
doutrina específica dentro do contexto daquilo que denominados de
Teologia Sistemática, a qual se ocupa em estudar a existência, as
características, natureza moral e atividades dos anjos. Iniciaremos,
portanto, pelo estudo da existência dos anjos.
SUA
EXISTÊNCIA
Ao
iniciarmos nosso estudo de Angelologia, faz-se necessário que
assentemos biblicamente a verdade da existência dos anjos.
A
existência dos anjos, conforme veremos a partir de agora, é
claramente demonstrada pelo ensino, tanto do Antigo, quanto do Novo
Testamentos.
a)
Estabelecida pelo Ensino do Antigo Testamento
São
inúmeros os textos do AT que comprovam a realidade da existência
dos anjos. Queremos, no entanto, destacar apenas os que se seguem:
Gn 32:1,2; Jz 6:11ss; 1Rs 19:5; Ne 9:6; Jó 1:6; 2:1; Sl 68:17;
91:11; 104:4; Is 6:2,3; Dn 8:15-17; Nos textos alistados
anteriormente, vemos os anjos em suas funções principais de
servir e louvar a Yahweh, transmitir as mensagens de Deus,
obedecer Sua vontade, executar a vontade de Deus, e também como
guerreiros.
b)
Estabelecida pelo Ensino do Novo Testamento
No
contexto do NT, os anjos não são apresentados simplesmente como
"mensageiros de Deus", mas também como "ministros
aos herdeiros da salvação" (Hb 1:14). Outrossim, a existência
dos anjos é apresentada de maneira inequívoca no NT. Vejamos, por
exemplo, os textos a seguir: Mt 13:39; 13:41; 18:10; 26:53; Mc
8:38; Lc 22:43; Jo 1:51; Ef 1:21; Cl 1:16; 2Ts 1:7; Hb 1:13,14;
12:22; 1Pe 3:22; 2Pe 2:11; Jd 9; Ap 12:7; 22:8,9.
04.
O ARCANJO MIGUEL
Pretendemos
a partir de agora estudar a respeito de cinco classes especiais
de anjos, a começar por Miguel, o Arcanjo.
No
grego encontramos Michael , heb. mika'el . O nome Miguel significa
"quem é como El (Deus)?".
A
tradição sobre a existência de arcanjos não fazia parte
original da fé judaica. Assim, na literatura bíblica, Miguel é
introduzido em Dn 10:13,21 e 12:1 e reaparece no NT em Jd 9 e Ap
12:7. Embora algumas literaturas tenham Gabriel como outro Arcanjo
(totalizando sete na literatura apócrifa e pseudepígrafa, onde
quatro nomes são revelados: Miguel, Gabriel, Rafael e Uriel),
a Bíblia só revela a existência de um único Arcanjo, Miguel.
Isto é demonstrado pelo fato de que nas duas ocorrências da palavra
grega archangelos , "arcanjo", 1Ts 4:16 e Jd 9, o termo só
aparece no singular, ligado unicamente ao nome de Miguel, donde se
conclui biblicamente que só exista um anjo assim denominado
Arcanjo, ou anjo-chefe, e que esse Arcanjo chama-se Miguel.
O
Miguel que se pode encontrar no NT, surge no AT apenas no livro de
Daniel. Como Gabriel, é um ser celestial . Tem, no entanto,
responsabilidade especiais como campeão de Israel contra o anjo
rival dos persas (Dn 10:13,21), e ele comanda os exércitos
celestiais contra todas as forças sobrenaturais do mal na última
grande batalha (Dn 12:1). Na literatura judaica recente, bem como nos
apócrifos e pseudepígrafos, o nome de Miguel é apresentado como
guardião militar e intercessor de Israel.
No
NT, Miguel aparece apenas em duas ocasiões. Em Jd 9, há referência
a uma disputa entre Miguel e o diabo com respeito ao corpo de
Moisés. Essa passagem é bastante polêmica. Orígenes acreditava
que isto estaria registrado num apócrifo chamado de "Assunção
de Moisés", mas a história não aparece nos textos existentes,
porém incompletos, desta obra. A literatura rabínica posterior
parece ter conhecimento desta história. O outro texto em que
Miguel aparece, é Ap 12:7, que retoma o tema de Dn 12:1,
apresentando-se Miguel como sendo o vencedor do dragão primordial,
identificado como Satanás.
OS
SERAFINS
O
termo hebraico é saraph . Quanto à origem exata e a significação
desse termo, não existe concordância entre os eruditos.
Provavelmente, deriva-se da raiz hebraica saraph , cujo significado
é "queimar", o que daria a idéia de que os Serafins são
anjos rebrilhantes, uma vez que essa raiz também pode significar
"consumir com fogo", mas também "rebrilhar" e
"refletir".
A
única menção a esses seres celestiais nas páginas das Escrituras
Sagradas fica no livro de Isaías (Is 6). Os serafins aparecem
associados com os Querubins na tarefa de resguardar o trono
divino. Os seres vistos por Isaías tinham forma humana, embora
possuíssem seis asas (Is 6:2). Estavam postos acima do trono de
Deus (Is 6:2a), o que parece indicar que sejam líderes na adoração
ao Senhor. Uma dessas criaturas entoava um refrão que Isaías
registra nas palavras: "Santo, santo, santo é o Senhor dos
Exércitos; a terra inteira está cheia da Sua glória" (Is
6:3). Tão vigorosa era esta adoração, que é dito que o limiar do
Templo divino se abalava e o santo lugar ficava cheio de fumaça.
Pelo
que observamos no texto, parece que para Isaías os Serafins
constituíam uma ordem de seres angélicos responsáveis por certas
funções de vigilância e adoração. No entanto, parecem ser
criaturas morais distintas, e não apenas projeções da imaginação
ou personificação de animais. Suas qualidades morais eram
empregadas exclusivamente no serviço de Deus.
OS
QUERUBINS
No
hebraico, temos keruhbim , plural de kerub . No grego cheroub .
Palavra de etimologia incerta.
No
AT esses seres são apresentados como simbólicos e celestiais. No
livro de Gênesis, tinham a incumbência de guardar o caminho para a
árvore da vida, no jardim do Éden (Gn 3:24). Uma função
semelhante foi credita aos dois Querubins dourados, postos em cada
extremidade do propiciatório (a tampa que cobria a arca no
santíssimo lugar - Êx 25:18-22; Cf Hb 9:5), onde simbolicamente
protegiam os objetos guardados na arca, e proviam, com suas asas
estendidas, um pedestal visível para o trono invisível de Yahweh
(veja Sl 80:1 e 99:1, para entender essa figura). No livro de
Ezequiel (Ez 10), o trono-carruagem de Deus, que continuava
sustentado por Querubins, tornava-se móvel. Também foram bordados
Querubins nas cortinas e véus do Tabernáculo, bem como estampados
nas paredes do Templo (Êx 26:31; 2Cr 3:7).
Tem
sido objeto de críticas acirradas, o fato de que os povos vizinhos
de Israel possuíam criaturas aladas simbólicas. Especialmente os
heteus popularizaram os grifos, uma criatura altamente complicada
com corpo de leão, cabeça e asas de águia e com a aparência
geral semelhante à de uma esfinge. Por estes motivos, alguns
críticos têm conjeturado que Israel tenha tomado esse costume por
empréstimo desses povos vizinhos. No entanto, fica bastante claro
que a situação é inversa: os povos vizinhos é que deturparam a
simbologia israelita, adaptando-a às suas crendices. Exemplo
disto, é a conhecida "Epopéia de Gilgamesh", uma
história babilônica do dilúvio, obviamente tomada por empréstimo
do relato bíblico.
O
ANJO GABRIEL
O
vocábulo hebraico Gabriel significa "homem de Deus"
(heb. geber , "varão" e El - forma abreviada de Elohim ,
"Deus").
No
AT, Gabriel aparece apenas em Daniel, e ali como mensageiro
celestial que surge na forma de um homem (Dn 8:16; 9:21). Suas
funções são: revelar o futuro ao interpretar uma visão (Dn
8:17), e dar entendimento e sabedoria ao próprio Daniel (Dn 9:22).
No
NT, Gabriel surge somente na narrativa de Lucas que descreve o
nascimento de Cristo. Ali, ele é o mensageiro angelical que
anuncia grandes eventos: o nascimento de João (Lc 1:11-20) e de
Jesus (Lc 1:26-38). Também é apresentado como aquele que "assiste
diante de Deus" (Lc 1:19). Destes casos, conclui-se que Gabriel
é o portador das grandes mensagens divinas aos homens. Pode-se
concluir, dizendo que na Bíblia, Gabriel é o "anjo mensageiro"
e Miguel o "anjo guerreiro".
O
ANJO DO SENHOR
Outro
ensino veterotestamentário de grande importância, que por sua vez
está estritamente relacionado com as Teofanias, são as aparições
do Anjo do Senhor. Optamos por estudar, separadamente, este assunto,
em virtude de sua importância crucial, uma vez que as aparições do
Anjo do Senhor se constituem em Teofanias, mas especificamente
Teofanias onde as aparições de Deus se davam de forma humana.
A
expressão "Anjo do Senhor" ou sua variante "Anjo de
Deus", se encontram mais de cinqüenta vezes no AT. Portanto,
é necessário algumas considerações acerca desse personagem, que
se reveste de grande importância quando tratamos da possibilidade da
Encarnação.
A
primeira aparição bíblica do "Anjo do Senhor", foi no
episódio de Agar, no deserto (Gn 16:7). Outros acontecimentos
incluíram pessoas como Abraão (Gn 22:11,15), Jacó (Gn 31:11-13),
Moisés (Êx 3:2), todos os israelitas durante o Êxodo (Êx 14:19) e
posteriormente em Boquim (Jz 2:1,4), Balaão (Nm 22:22-36), Gideão
(Jz 6:11), Davi (1Cr 21:16), entre outros.
A
Bíblia nos informa que o Anjo do Senhor realizou várias tarefas
semelhantes às dos anjos, em geral. Às vezes, Suas aparições
eram simplesmente para trazer mensagens do Senhor Deus, como por
exemplo em Gn 22:15-18; 31:11-13. Em outras aparições, Ele fora
enviado para suprir necessidades (1Rs 19:5-7) ou para proteger o
povo de Deus de perigos (Êx 14:19; Dn 6:22).
Com
relação à identidade do Anjo do Senhor, os eruditos não são e
nunca foram unânimes. Entretanto, não há porque duvidar da
antiquíssima interpretação cristã de que, nesses casos acima
citados, encontramos manifestações preencarnadas da Segunda Pessoa
da Trindade.
Desejamos,
portanto, apresentar a seguir três argumentos bíblicos que
comprovam, indubitavelmente, que o Anjo do Senhor é Jesus Cristo
antes de encarnado.
Josué
5:14 - Quando o Anjo do Senhor apareceu a Josué, diz a Palavra do
Senhor que ele "...se prostrou sobre o seu rosto na terra, e O
adorou, e disse-lhE: Que diz meu Senhor ao seu servo?". Se o
Anjo do Senhor não fosse o próprio Senhor (ou melhor, o Senhor
Jesus como Segunda Pessoa da Trindade), o anjo (caso fosse
simplesmente "um anjo") teria proibido a Josué de
adorá-lo, como ocorreu em Ap 19:10 e Ap 22:8,9.
Jz
13:18 - Embora concordemos com o fato de que existem controvérsias
a respeito desta passagem, reputamos a mesma como factual e
elucidativa. Quando Manoá, pergunta ao Anjo do Senhor, o Seu
nome, Ele responde: "...porque perguntas assim pelo meu nome,
visto que é maravilhoso ?" Uma comparação desta resposta com
a passagem de Is 9:6, demonstra que o Anjo do Senhor que apareceu a
Manoá é o Menino que nos fora dado de Isaías. Isto é, o Anjo do
Senhor, cujo Nome é Maravilhoso (YHWH), é o próprio Senhor, e ao
mesmo tempo o Menino que nos fora dado.
A
terceira prova escriturística que queremos apresentar, é que no
contexto neotestamentário, a Bíblia deixa de utilizar-se do termo
"o Anjo do Senhor" como pessoa específica. Isto é
demonstrado pelo fato de que o artigo definido masculino singular "o"
deixa de ser utilizado, sendo substituído pelo artigo indefinido
"um". Alguns exemplos disto, são os textos de Lc 1:11;
At 12:7 e At 12:23, dentre muitos outros. Infelizmente, nem todas as
ocorrências de Anjo do Senhor no NT, na versão ARC, se encontram
com o artigo indefinido "um", o que ocorre na versão ARA
nos textos citados e em outros correlatos.
Esta
substituição possui um grande significado. Isto é, no contexto do
NT, contemporâneo ou posterior à Encarnação, as manifestações
angelicais não eram do Anjo do Senhor, mas meramente de um de Seus
anjos, pois o Anjo do Senhor já havia sido manifestado na carne (1Tm
3:16).